Roteiro de Estudos
Professor(a): Mauricio Rezende Zuffo
Componente Curricular: História
Turmas:3 A -3B
Número de aulas/data referente: 2 aulas 20-24/07
Sensibilização : Cotidiano e Cultura.
Habilidade(s) a ser desenvolvida
(EF03HI10) Identificar e
relacionar as dinâmicas do capitalismo e suas crises, os grandes conflitos
mundiais vivenciados no século XX.
(EF03HI12)
Comparar as relações de trabalho e lazer do presente com as de outros tempos e
espaços, analisando mudanças e permanências.
Sequência de Atividades Vamos
nesta semana analisar a história moderna e o período chamado era Vargas, iremos
retomar as características ditatoriais
do governo Vargas, cotidiano e cultura, a importância dos meios de comunicação
em massa, como rádio, que foram intensivamente utilizados para promover a
identidade nacional e exaltar os feitos de Vargas.
Forma de Avaliação da Aprendizagem : Estamos construindo o entendimento das formações sociais
do século XX.A pesquisa e o fichamento serão avaliados.
Referência: livro didatico
: Cotidiano e cultura pagínas 108 ,109.
No Brasil, a primeira experiência
radiofônica ocorreu em 1922, porém, somente em 1923 foi instalada a primeira
emissora. Até o início da década de 1930, o rádio permaneceu em caráter
experimental. Organizado em sistema de sociedade, com uma programação voltada
para a elite, o rádio teve um desenvolvimento lento até quando foram permitidas
propagandas comerciais que levaram à organização de empresas para disputar o
mercado. O desenvolvimento desta reflexão procura mostrar como o rádio exerceu
forte influência na vida das pessoas, sendo capaz de criar modas, inovar
estilos e inventar práticas cotidianas. Os diversos programas, como as
radionovelas, programas de auditório, humorísticos, de variedades, de calouros
e outros, fizeram tanto sucesso que marcaram profundamente a vida das pessoas,
transformando-se em parte integrante do cotidiano. Além da divulgação de
manifestações artísticas, mantinha as pessoas informadas e integradas,
superando os limites físicos. O rádio trazia o mundo para dentro de casa. Após
o seu lançamento, o rádio passou a fazer parte do cotidiano das pessoas,
tornando-se um companheiro de todas as horas e um importante meio de informação
e entretenimento. E continua presente em todos os meios, nas mais diversas
situações. É utilizado como veículo de informação, lazer, denúncias e difusão
de uma ideologia formadora de opiniões. Desde os primeiros tempos, a
radiodifusão apresentou-se como algo de fundamental importância em relação à
comunicação à distância. Logo se percebeu a função estratégica que o rádio
poderia desenvolver. Por essa razão, em alguns países somente foi permitida
pelos governos a criação de emissoras de rádios estatais. A partir da década de
1930, Getúlio Vargas passou a fazer uso desse meio de comunicação para difundir
o projeto político-pedagógico do Estado Novo, repassando a imagem de uma
sociedade unida e harmônica, sem divisões e conflitos sociais. Por meio de um
programa oficial, A Hora 2 do Brasil, que deveria ser retransmitida por todas
as emissoras do país, buscava-se difundir a informação, a cultura e o civismo,
criando uma unidade nacional. Ao conhecer a história dos primeiros tempos do
rádio no Brasil e a sua importância para a divulgação de uma ideologia,
torna-se possível entender por que o poder público procurou, desde o início,
manter sob controle os meios de comunicação. 2. O RÁDIO NO BRASIL Segundo
CABRAL (1996), a radiodifusão foi implantada sistematicamente na Europa e nos
Estados Unidos em 1920. Porém, já na década de 60 do século XIX, o inglês James
C. Max-well falou da existência das ondas de rádio que, vinte anos mais tarde,
receberam o nome de ondas hertzianas, em homenagem ao seu real descobridor,
Rudolph Hertz. A teoria de Hertz foi demonstrada na prática somente no final do
século, por Guglielmo Marconi, um cientista italiano que montou antenas
dirigidas tanto para um transmissor quanto para um receptor. Após várias
experiências, o rádio finalmente chegou ao Brasil. Sua apresentação à sociedade
brasileira, segundo CALABRE (2002), ocorreu num momento em que o Brasil buscava
a modernização e o rompimento definitivo com o passado. No início da década de
1920, houve a derrubada do Morro do Castelo e em seu lugar foram construídos
pavilhões para a Exposição Nacional em comemoração ao Centenário da
Independência. No dia 07 de setembro de 1922, ocorreu a primeira demonstração
pública de transmissão de rádio no país, na qual os visitantes da Exposição e
outros cidadãos, agraciados com 80 receptores, sendo alguns deles instalados em
praças públicas, puderam ouvir o discurso do presidente Epitácio Pessoa, além
de trechos da Ópera O Guarany, de Carlos Gomes, do Teatro Municipal, onde
estava sendo executada. Essa primeira demonstração pública de uma transmissão
radiofônica, apesar de ser acompanhada de muitos ruídos, causou espanto 3 e
curiosidade entre os visitantes da Exposição Nacional. As primeiras
transmissões radiofônicas resultaram em tão grande sucesso que no ano seguinte,
em abril de 1923 foi instalada a primeira emissora de rádio brasileira: a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, de propriedade do cientista Henrique Morize e do
escritor e antropólogo Edgar Roquette Pinto. As primeiras rádios, por serem
financiadas por seus associados, eram sociedades ou clubs que tinham como
objetivo difundir a cultura e promover a integração nacional. É por essa razão
que a denominação das primeiras emissoras era sempre Rádio Sociedade: do Rio de
Janeiro em 1923; de São Paulo em 1924; ou Rádio Clube: Pernambuco, Paraná, São
Paulo, sendo estas de 1924. Grande divulgador do conhecimento por meio de
livros, revistas e jornais, Roquette Pinto entusiasmou-se com o advento do
rádio no Brasil, afirmando em seu livro “Seixos Rolados”: Nós que assistimos à
aurora do rádio sentimos o que deveriam ter sentido alguns dos que conseguiram
possuir e ler os primeiros livros. Que abalo no mundo moral! Que meio para
transformar o homem, em poucos minutos, se o empregar com boa vontade, alma e
coração! (MOREIRA, 1991, p. 16). Roquette Pinto era médico e antropólogo, foi
membro da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Letras e
também foi o fundador do Instituto Nacional de Cinema Educativo. Defendia a
necessidade de levar cultura e educação a todos os brasileiros. Henrique
Morize, companheiro de Roquette Pinto, era presidente da Academia Brasileira de
Ciência. Ambos viam no rádio a possibilidade de elevar o nível cultural do
país. Vários intelectuais aderiram às idéias dos pioneiros e freqüentavam à
emissora, prestando sua contribuição por meio de entrevistas e palestras. O
rádio, em sua primeira fase, tornou-se um meio preocupado em levar educação e
cultura à população. Várias emissoras brasileiras seguiram essa vocação mesmo
quando o rádio comercial passou a se destacar. Em 1936, mediante a promessa de
que os ideais de educação e 4 cultura seriam preservados, Roquette Pinto doou a
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ao Ministério da Educação e Cultura, dando
início ao sistema de Rádios Educativas no Brasil. Na década de 1920, o rádio
era um meio de comunicação ligado às camadas altas da população devido ao
estilo de sua programação: óperas, conferências e músicas clássicas que
agradavam à elite, não atingindo as camadas populares. A Rádio Sociedade Rio de
Janeiro desenvolvia programas voltados à formação dos ouvintes, por meio de
cursos: aulas, conferências e palestras. Literatura, lições de português,
história, geografia e outras faziam parte das transmissões radiofônicas. Muitos
intelectuais, em visita ao Rio de Janeiro, eram convidados a participar,
tornando evidente a preocupação com a divulgação do conhecimento. Porém, apesar
dos esforços de Roquette Pinto em oferecer uma programação educativa popular
para a maioria da população, o rádio continuou refletindo um nível cultural de
elite (MOREIRA, 1991). Em 1924, surgiu também no Rio de Janeiro, a segunda
emissora de rádio, a Rádio Clube do Brasil. Os próprios ouvintes montavam seus
aparelhos receptores, os chamados rádios de galena. “[...] com a utilização de
cinco pequenas peças: cristal de galena, indutor, condensador variável de
sintonia e fones de ouvido.” (CABRAL, 2006, p. 9). As pessoas podiam adquirir
as peças para montar seu aparelho. Os receptores eram caros e o sistema de
transmissão, por ser de baixa potência e de difícil captação, fazia com que a
qualidade da recepção fosse ruim. A partir do momento em que começaram a chegar
ao Brasil rádios já montados, com alto-falantes, essa situação começou a ser
alterada, ainda no final da década de 1930. Assim como os receptores, as
instalações das emissoras também eram bastante precárias. Até 1926 somente as
duas emissoras radiofônicas funcionaram, quando foi então criada a Rádio
Mayrink Veiga. 5 Em 1930, segundo OLIVEIRA (2003), já havia cerca de 16
emissoras funcionando no sistema de sociedade. Cada associado pagava uma
mensalidade para poder receber o som. Inicialmente a escuta era individual, por
meio de rádio de galena e fone de ouvido, porém logo a escuta se tornou
coletiva. No entanto, havia inúmeras dificuldades e, devido ao pequeno número
de receptores, as emissoras transmitiam seus programas em horários
pré-estabelecidos. Por determinação do Estado, os proprietários deveriam
registrar seus aparelhos para que houvesse controle sobre as transmissões e
captações. Apesar disso, qualquer
pessoa que tivesse o aparelho receptor podia captar o som. Percebendo a
possibilidade e a vantagem da escuta coletiva, o interesse pelo rádio aumentou,
dando início ao seu processo de popularização. Inicialmente, para que fosse
criada uma nova emissora, era necessário formar uma rádio-sociedade, na qual o
estatuto determinava que houvesse associados que colaborassem com certa quantia
mensal. Tal verba era, às vezes, a única fonte de renda das emissoras. Como os
associados não eram fiéis ao pagamento, muitas emissoras passavam por
dificuldades. Nesse período também era comum os locutores pedirem, em seus
programas, que os ouvintes se inscrevessem como sócios e contribuíssem,
emprestando seus discos à emissora, para que a programação pudesse ser feita. A
elite que tinha condições de adquirir um aparelho, também possuía em casa
diversos discos que doava ou cedia temporariamente. Ao anunciar a música, o
locutor agradecia ao ouvinte que tinha emprestado ou doado o disco à emissora.
A programação das emissoras, nesse sistema de sociedade, acabava atendendo as
camadas sociais mais altas e refletia seus interesses, pois eram elas que
mantinham a emissora no ar.
Durante a década de 1920, não foi
criado um sistema estatal de emissoras de rádio, ficando este caminho aberto
para a iniciativa privada. O Decreto nº 16.657, de novembro de 1924, assinado
pelo presidente Arthur Bernardes classificou as emissoras de rádio destinadas à
radiodifusão como de tipo experimental e também determinava que somente
sociedades nacionais tivessem concessões e as transmissões deveriam ser feitas
em língua portuguesa. De acordo com o mesmo decreto, as programações deveriam
ter como finalidade a formação educativa, científica, artística e que trouxesse
benefício ao povo, ficando proibidas notícias de caráter político sem que o
governo autorizasse com antecedência. Em caso de guerra, o decreto previa que
qualquer emissora particular poderia perder o direito de funcionamento ou
poderia passar para o controle do governo ou ter sua concessão cassada
(CALABRE, 2003). Vários fatores fizeram com que o desenvolvimento do rádio
ocorresse lentamente. Os climas de instabilidade gerados pelas revoltas tenentistas
e as várias declarações de Estado de Sítio fizeram com que o rádio fosse visto
como um instrumento perigoso contra o poder estabelecido. Nesse período, a
falta de investimento no setor fez com que as programações fossem feitas de
maneira simples levando ao ar informações ou músicas. A fase comercial do rádio
demorou um pouco e assim muitas emissoras iam ao ar somente nos horários da
manhã e da noite. Segundo CALABRE (2002), não havia regulamentação sobre a
publicidade, ou melhor, de reclames (nome dado para a intervenção publicitária
na época) e o decreto-lei nº 16.657 de 15.11.1924 reservava ao Governo o
direito de anúncios e reclames comerciais. Mesmo assim havia muitos
patrocinadores que tinham seus nomes citados no decorrer da programação. Nesse
período, o rádio ainda não era visto como um veículo de comunicação capaz de
atrair clientes e vender produtos. Somente no final da década de 1920 e início
da de 1930 começaram a chegar ao Brasil às 7 primeiras agências de publicidade
norte-americanas, sendo as primeiras a Thompson e a McCann-Erickson. Nos
Estados Unidos as agências de propaganda fizeram do rádio um grande aliado para
o qual foram destinados os maiores percentuais das verbas publicitárias. As
agências de publicidade norte-americanas foram, aos poucos, trazendo para o
Brasil essa experiência e na década de 1940 as multinacionais tornaram-se as
grandes anunciantes do rádio, passando a usá-lo como meio sistemático da venda
de produtos. Além de programas associados a marcas, tais empresas produzem
jingles associados a produtos. As agências vendiam produtos, mas também estilos
de vida, e se tornam elas próprias produtoras culturais na medida em que
transmitem a mensagem de que para ser civilizado você deveria consumir os
mesmos produtos que os norte-americanos: seja a Coca-Cola, a pasta de dente
Kolynos (garantia de dentes brancos e saudáveis) ou o sabonete Gessy (OLIVEIRA,
2003, p. 340). Durante a década de 1920, houve pouco desenvolvimento da
radiodifusão devido ao alto custo do investimento, à incerteza do retorno e à
instabilidade política. Produziam-se apenas programas informativos ou musicais,
devido à falta de investimentos no setor e à escassez de aparelhos receptores
que, por serem importados, tornavam-se caros. Somente a parcela mais abastada
da sociedade é que poderia adquiri-los. Nesse período, o rádio caracterizou-se
pela produção de programas simples: musicais ou informativos. Na década de
1930, essa situação começou a ser alterada. Antonio Nássara, compositor e
cartunista, improvisou um fado que fazia propaganda de uma padaria em Botafogo,
no Rio de Janeiro, e pode ser considerado o primeiro jingle do rádio. O texto
dizia: “seu padeiro não esqueça, tenha sempre na lembrança: o melhor pão é o da
Padaria Bragança” (MOREIRA, 1991). A legislação de 1931 e 1932 consolidou e
profissionalizou o rádio brasileiro. No período de 1930 a 1937, 43 emissoras
foram fundadas. Os Decretos nº 20.047 de 27/05/1931 e o nº 21.111, de
1º/03/932, consolidaram uma conjuntura favorável ao rádio, pondo fim ao seu
período experimental e amadorístico. O Decreto nº 21.111 refere-se várias 8
vezes ao caráter educativo que as programações deveriam ter. O artigo 2º deste
Decreto concede ao Ministério da Educação e Saúde (MES) a orientação
educacional da programação das emissoras de rádio. Porém, a atuação do MES
limitou-se à recomendação de algumas programações e à premiação de emissoras
que desenvolvessem programas educativos. O mesmo decreto ainda permitia que as
rádios fizessem uso da propaganda comercial por meio de dissertações que não
poderiam ultrapassar dez por cento do total do tempo de cada programa, sendo
que cada dissertação poderia durar, no máximo, 30 segundos, sendo intercaladas
nos programas (CALABRE, 2003). O advento da publicidade fez com que as emissoras
de rádio passassem a disputar o mercado e para isso organizaram-se em empresas.
O status da emissora, sua popularidade e o desenvolvimento técnico constituíam
as três facetas da competição. Apesar de todas as limitações técnicas, cada
emissora tinha como objetivo melhorar a qualidade do som e ampliar o alcance. A
permissão de propaganda comercial foi a grande novidade e as mensagens
comerciais transformaram-se na principal fonte de recursos. A concessão de
canais a particulares ajudava a reforçar a exploração comercial do rádio.
Tendo como objetivo atrair novos ouvintes, as
emissoras empenhavam-se em produzir programas populares, levando em
consideração a opinião pública para a sua avaliação. Com a promoção de
concursos, distribuição de brindes e análise de correspondências recebidas
avaliava-se o programa que poderia passar por uma reformulação ou até ser
retirado do ar. O ouvinte tornou-se exigente devido ao crescimento do número de
emissoras que lhe proporcionava mais opções. As emissoras, a partir da década
de 1930, passaram a receber o público em seus estúdios, pois os ouvintes não se
contentavam mais em apenas ouvir seus artistas favoritos, queriam vê-los. 9
Para atender ao público ouvinte, além de ampliar auditórios, algumas emissoras
passaram a cobrar ingressos. Nas grandes cidades, os ingressos tinham como
função principal limitar o público; no interior do país, a cobrança era uma
forma de conseguir a verba necessária para pagar os cachês de artistas que ali
faziam suas apresentações. Por volta de 1930 começou a se tornar comum a
contratação de cantores (CALABRE, 2002). Vários programas de variedades
surgiram com a introdução do patrocínio de anunciantes, levando o rádio a
transformar-se em fenômeno social e dando-lhe o poder de influenciar
comportamentos e ditar modas, devido à sua capacidade de conquista de milhares
de fiéis ouvintes. Muitos programas lançaram artistas, como Carmem Miranda,
Mário Reis, Francisco Alves, Noel Rosa entre outros. A música Cantoras do
Rádio, gravada pelas irmãs Carmem e Aurora Miranda, ainda hoje é identificada
como um ícone do rádio, sendo uma composição de Lamartine Babo e João de
Barros: Nós somos as cantoras do rádio, levamos a vida a cantar. De noite embalamos
teu sono, de manhã nós vamos te acordar. Nós somos as cantoras do rádio. Nossas
canções, cruzando o espaço azul, vão reunindo num grande abraço, corações de
Norte a Sul (NOSSO SÉCULO, 1985, p. 89). Apresentados por Paulo Gracindo, César
de Alencar, Manoel Barcelos e outros que ficaram famosos, os programas de
variedades, em geral, iam ao ar nos finais de semana com atrações artísticas,
apresentação de calouros, quadros de humor, distribuição de prêmios, etc.
Variedades também fizeram parte do formato, alguns temas, como história da
cidade, folclore, curiosidades e outros. Atores, atrizes e cantores costumavam
participar desses programas. Era comum o público lotar o auditório das
emissoras. Muitas pessoas eram capazes de chegar na véspera dos programas e passar
a noite na fila, dormindo na calçada, para conseguir um ingresso. O humorismo,
no final da década de 1930, revelou grandes astros como Castro Barbosa, Lauro
Borges, Silvino Netto, Manuel da Nóbrega e 10 Aluísio Silva Araújo. Os
programas humorísticos faziam concorrência com programas de música e com as
radionovelas, disputando o título de campeão de popularidade. Muitos programas,
como o PRK-30 e o “Balança mas não cai”, permaneceram vários anos no ar. O
retrato e a crítica cotidiana constituíam o tema da maioria dos programas de
humor, sendo escritos como uma espécie de crônica. Diversos grupos de
profissionais faziam parte do setor de radioteatro e eram responsáveis pelas
novelas e esquetes radiodramatizados dos diversos programas. Textos teatrais também
foram adaptados para o rádio, contando com o auxílio de profissionais que eram
responsáveis pelos efeitos sonoros e trilhas musicais. Isso ajudava a dar mais
emoção e vida ao texto, ajudando a construir um ambiente imaginário. Surgiram
vários programas desse estilo, que revelaram grandes intérpretes, como Olga
Navarro. As radionovelas fizeram muito sucesso, sendo lançadas em 1941. Porém,
a popularização desse gênero ocorreu com o surgimento das novelas transmitidas
em capítulos. A primeira “Em busca da felicidade”, estreou na Rádio Nacional,
em 5 de junho de 1941. O texto original era de autoria de Leandro Blanco, um
cubano, e adaptado por Gilberto Martins, e o patrocínio era da pasta dental
Colgate. O grande sucesso fez com que outras emissoras de São Paulo e Rio de
Janeiro adotassem o estilo. Sempre com altos índices de audiência, “Em busca da
felicidade” teve dois anos e meio de duração. Para conquistar o ouvinte, a
radionovela deveria ter uma linguagem simples, abordando um tema de interesse
que fosse capaz de despertar sentimentos. Da mesma forma que as telenovelas
atuais, levavam o ouvinte a debater o tema e a tomar posição em relação aos
personagens, apoiando-os ou criticando-os. Os programas de calouros surgiram em
meados da década de 1930 nos auditórios das rádios. Celso Guimarães (Cruzeiro
do Sul, de SP) e Edmundo Maia e Paulo Roberto (Cruzeiro do Sul, RJ) estão entre
os pioneiros. Esses programas fizeram muito sucesso e logo se espalharam por
outras emissoras. Destacou-se na Tupy, “Calouros em Desfile”, de Ari 11
Barroso; na Rádio Club do Rio, “Papel de Carbono”, com Murce; na Nacional, “A
Hora do Pato”, de Herber Bôscoli, além de outros. Emilinha Borba, cantora de
sucesso, apresentou-se no programa de Lamartine Babo, ganhando o prêmio máximo.
Havia muitos interessados em participar desses programas, sonhando em ganhar o
prêmio ou um contrato com uma emissora de rádio. Muitos maestros também se
destacaram, como Spartaco Rossi, Radamés Gnatalli e Francisco Mignoni, pois
toda rádio procurava ter a sua própria orquestra contratada, que executava,
além de músicas eruditas, adaptações populares e folk-lore que abrangia desde
samba, música sertaneja e erudita de temática nacional, até música caipira e
outras (NOSSO SÉCULO, 1985). A música, dentro de uma emissora, sempre ocupou um
lugar de destaque e as apresentações eram ao vivo durante as três primeiras
décadas do rádio, quando havia orquestras e pequenos conjuntos regionais
contratados. Os cantores populares destacavam-se junto ao público ouvinte. As apresentações
geralmente eram feitas em programas ao vivo e com a presença do público em
auditórios. Os programas de auditório e de calouros conquistaram espaço na
Rádio Nacional, revelando vários talentos. Era comum aproveitar esses programas
para fazer o lançamento de músicas populares, pois se podia perceber a
aceitação ou rejeição do público. Também era um privilégio apresentar-se numa
emissora como a Tupy ou a Nacional, pois isso possibilitava ao artista
tornar-se conhecido no país e vender seus discos. Concursos para Rainhas do
Rádio e Reis da Voz atraíram à atenção dos fãs de tal maneira que foram
lançadas revistas especializadas, como a revista do Rádio, por meio da qual as
pessoas poderiam conhecer um pouco sobre a vida do ídolo: modo de vida, preferências,
etc. O concurso de 1953 consagrou a cantora Emilinha Borba Rainha do Rádio.
A publicidade também influenciou a introdução
do jornalismo radiofônico no Brasil. A primeira edição do Repórter Esso foi ao
ar em agosto de 1941, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Tal informativo
permaneceu no ar por 27 anos influenciando os padrões dos jornaisfalados
existentes até então. Com base nas notícias distribuídas pela agência
norte-americana United Press (UPI) e elaboradas pelos redatores da agência de
publicidade McCann-Erickson que detinha a conta da Esso Standard de Petróleo,
companhia multinacional patrocinadora do programa jornalístico, o Repórter Esso
iniciou com um noticiário voltado principalmente para a cobertura de
acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. De acordo com o manual estabelecido,
cumpria rigorosamente três regras: era um programa informativo, não comentava
as notícias; e sempre fornecia as suas fontes. Tendo quatro emissões diárias
com cinco minutos de duração, destacava-se pelos slogans: “O primeiro a dar as
últimas” e “Testemunha ocular da história”. Esse noticiário ficou famoso devido
a sua pontualidade a ponto das pessoas acertarem seus relógios por ele. O
telejornalismo brasileiro anterior ao Repórter Esso não recebia um tratamento
redacional específico. As notícias eram extraídas de jornais e as emissoras
apenas comentavam os fatos que já haviam sido noticiados pela imprensa. As
emissoras só passaram a produzir seus próprios noticiários na medida em que
houve crescimento do setor radiofônico. Era comum cada rádio ser filiada a uma
agência de notícias nacional e também a uma internacional, as quais forneciam a
matéria-prima para a elaboração dos noticiários. Algumas rádios, na medida em que
aperfeiçoaram seus equipamentos de transmissão externa, passaram a contar com
equipes de reportagem que foram desenvolvendo estilos próprios de noticiários.
Algumas destacavam mais as notícias internacionais, outras privilegiavam
comentários políticos e notícias de caráter interno. O Repórter Esso foi o
grande destaque dos noticiários radiofônicos e serviu de modelo para o
jornalismo posterior pelo seu estilo objetivo, 13 imparcial, informativo e
moderno. Transmitido pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sua primeira
transmissão foi ao ar no final de agosto de 1941, permanecendo até dezembro de
1968. Funcionando em caráter experimental, na Rádio Farroupilha de Porto
Alegre, o Repórter Esso foi lançado no Brasil devido ao sucesso alcançado em
outros países onde já era transmitido regularmente. As regras estabelecidas
pelo manual eram cumpridas à risca: cinco minutos de duração para cada edição,
sendo vinte segundos dedicados à abertura e ao encerramento; quatro minutos a
notícias nacionais, internacionais e locais e quarenta segundos à mensagem
comercial. Romeu Fernandes foi o primeiro locutor do Esso. Porém, Heron
Domingues manteve-se na programação até a década de 1960 como locutor
exclusivo. Com sua voz, considerada ideal a um locutor, transmitia segurança e
otimismo no ambiente inseguro e apreensivo da II Guerra Mundial.
A audiência do rádio começou a
crescer na medida em que os aparelhos receptores tornaram-se mais baratos. A
autorização da publicidade, também ajudou a alterar este cenário, pois até
então a organização das emissoras em sociedades e clubes, que patrocinavam os
programas, fazia com que as programações atendessem à elite. Definido como um
serviço de interesse nacional e de finalidade educativa, o rádio teve seu
funcionamento regulamentado pelo governo que procurava proporcionar-lhe bases
econômicas mais sólidas. A veiculação de propaganda pelo rádio foi autorizada
em março de 1932. Isso fez com que tal meio de comunicação, tido como erudito,
instrutivo e cultural, se transformasse em popular, meio de lazer e diversão.
Muitos intelectuais preocupavam-se em manter o rádio com a finalidade
educativa, transmitindo uma produção cultural erudita e por isso passaram a
fazer fortes críticas, à medida que ele se popularizava. A programação musical
era bastante criticada, principalmente os sambas, 14 marchas e canções; o
preconceito contra a música popular era muito grande. Muitos ouvintes também
achavam que o rádio estava se desviando de sua função educativa e protestavam
por esse desvirtuamento, escrevendo cartas por meio das quais pediam aulas de
português para que o povo falasse melhor a própria língua; outros reclamavam
pelo abandono da tradição erudita; havia os que sugeriam que, para ser tocado,
o samba deveria ter um enredo e sua letra contar uma história que induzisse à
virtude, a exemplo das óperas. Havia os que se preocupavam com o que pensaria
um estrangeiro que ouvisse uma música, como as que estavam sendo tocadas.
Certamente acharia que a cultura brasileira estava empobrecendo. Carlos Alberto
Ferreira Braga (o Braguinha) fazia parte do Grupo Tangarás e era filho do
diretor da uma das maiores indústrias têxteis do país: a Fábrica Confiança, de
Vila Isabel, e preparava-se para iniciar o curso de arquitetura. Colocava
sempre um substituto quando o grupo se apresentava recebendo remuneração, pois
preocupava-se com a repercussão negativa da sua atividade na música popular.
“Receber dinheiro por cantar em público, segundo os critérios em vigor, não
ficava bem para um jovem educado.” (CABRAL, 1996, p. 24). Vários outros
cantores usavam pseudônimos para manterem-se no anonimato. Enfim, a grande
questão era: afinal, o rádio deveria educar ou transmitir propagandas e formas
inferiores de música, como o samba e outros gêneros do folclore? As reclamações
foram inúmeras e a população “esclarecida”, que tinha o rádio como símbolo de
status e erudição, viu-se inconformada com a sua popularização. Porém, o rádio
passou a ocupar um lugar de destaque nas casas. Identificado com o bem-estar, a
alegria e a facilidade da vida moderna, contribuía para alterar hábitos e criar
novas necessidades. Transmitindo músicas e informações diversas de utilidade
pública, permitia também que as pessoas ficassem informadas sobre os
acontecimentos do Brasil e do mundo (OLIVEIRA, 2003). Nos esportes, o rádio
tornou-se importante com 15 as transmissões de partidas de futebol, atraindo
assim a audiência masculina. O rádio se tornou tão importante e capaz de
influenciar a vida das pessoas a ponto de despertar nelas o consumismo, ou
seja, o rádio começou a formar hábitos de consumo e comportamentos. Como o
analfabetismo era muito grande no país, o rádio fez uso da linguagem coloquial,
o que permitiu a sua popularização.
Getúlio Vargas e os vitoriosos da “Revolução”
de 1930 criaram uma legislação que atribuía ao governo o total controle sobre
tal veículo de comunicação. Em 1931, foi criada uma comissão Técnica de Rádio,
na qual o presidente teria o direito de nomear seus integrantes. Estava aberto
o caminho para a formação de uma rede nacional controlada pelo Ministério da
Educação e Saúde que garantia ao governo a exclusividade para autorizar
particulares a criarem novas emissoras. As concessões, a qualquer momento
poderiam ser cassadas, pois eram feitas a título precário. Dessa forma, o
rádio, mesmo sendo um veículo de comunicação privado, tornou-se um meio
controlado pelo Estado. Em 1937, Getúlio Vargas assinou a Lei nº 385, que
estimulava as atividades artísticas e obrigava que fossem incluídas, em todas
as programações musicais, obras de autores brasileiros natos. O rádio, durante
a década de 1930, despertou sentimentos diversos, que variavam do fascínio à
rejeição. Se por um lado ocupava um lugar de destaque nas residências, sendo um
símbolo de alegria, bem-estar e comodidade oferecida pela vida moderna; por
outro, representava o lugar da marginalidade e dos marginais, sendo assim
proibido às pessoas consideradas de “boa família”. Ao lançar novos produtos, o
rádio criava novas demandas que alteravam o hábito de vida das pessoas. Muitos
que não possuíam rádio reuniam-se com os vizinhos para acompanhar a sua
programação favorita. 16 Era comum estabelecimentos comerciais manterem seus
aparelhos de rádio ligados como um meio de atrair freguesia. No entanto, a
precariedade das instalações domésticas que não possuíam condições de adquirir
aparelhos eletrodomésticos e ainda o racionamento de energia elétrica que
atingiu o país ao longo das décadas de 1930 a 1950 foram fatores que atrapalharam
a expansão do rádio. Porém, ao lado de aparelhos sofisticados, surgiram várias
fábricas que começaram a produzir pequenos rádios que, com o tempo, passaram a
se tornar acessíveis para muitas pessoas, levando ao aumento da audiência do
rádio. Além do acesso à informação, o rádio logo tornou visível uma outra
capacidade: a mobilização política que, segundo CAPELATO (2002), tornou-se
evidente na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo. As rádios
Philips, do Rio de Janeiro e Record, de São Paulo, que inicialmente faziam
transmissões conjuntas, tornaram-se inimigas e passaram a ser usadas como armas
de luta, demonstrando que o rádio poderia ser utilizado como um veículo
revolucionário, devido a sua rapidez na divulgação dos fatos e ao seu largo alcance.
Durante a Segunda Guerra Mundial, era o rádio que permitia a rápida divulgação
das notícias, fazendo com que o ouvinte ficasse informado sobre os últimos
acontecimentos. Várias emissoras estrangeiras produziam programas em português,
facilitando a informação ao ouvinte. Para CAPELATO (2005), os meios de
comunicação de massa passaram a fazer uso de instrumentos técnicos e
científicos bastante sofisticados que facilitaram a manipulação dos ideais
coletivos, fabricando necessidades e se encarregando de satisfazê-las. A
propaganda, em qualquer regime, é estratégica para o exercício do poder, porém,
sua força torna-se maior onde o Estado exerce um controle maior sobre as
informações, manipulando-as a seu favor, como no caso do Estado Novo no Brasil.
A propaganda política adquiriu grande importância nas décadas de 1930 e 1940,
período em que os meios de comunicação tiveram um considerável avanço em nível
mundial. O nazismo, que teve como 17 inspiração a publicidade comercial
norte-americana, exerceu grande influência na Europa e na América, levando
também o regime brasileiro a inspirar-se em tal modelo, embora apresentando
características particulares e produzindo resultados diversos. Em 1934, em
visita oficial à Alemanha, Simões Lopes, assessor de Vargas, escreveu sugerindo
a criação de uma miniatura de tal modelo no Brasil. “Não há em toda a Alemanha
uma só pessoa que não sinta diariamente o contato do ‘nazismo’ ou de Hitler,
seja pela fotografia, pelo rádio, pelo cinema, através de toda a imprensa alemã
[...].” (Jornal da Tarde, 12 abr. 1997, Caderno de Sábado, p. 1, apud CAPELATO,
2003, p. 203). Assis Chateaubriand também aconselhou Vargas a seguir o modelo
de propaganda alemã fazendo uso das três poderosas armas ideológicas: o
jornalismo, o rádio e o cinema. A propaganda no Estado Novo procurou repassar a
imagem de uma sociedade unida e harmônica, livre de divisões e conflitos
sociais, organizada ao redor do grande líder Getúlio Vargas.
Em dezembro de 1939 o governo criou o Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha como objetivo difundir a ideologia do
Estado Novo junto à população. Diretamente subordinado à presidência da
República, as principais funções do DIP eram centralizar, coordenar, orientar e
superintender a propaganda nacional, interna ou externa. Cabia ao DIP fazer a
censura do cinema, do teatro, de funções esportivas e recreativas, da imprensa,
literatura, da radiodifusão, promover organizações cívicas e levar ao
conhecimento da população os feitos do governo. O DIP exercia um forte controle
social através da censura, fazendo uso de diversos meios para construir uma
ideologia: desde cartilhas para crianças, exaltando a figura de Vargas, até
jornais e filmes a serviço do 18 governo, além de outros materiais de propaganda.
Também substituiu as caricaturas do presidente por imagens. O rádio, na década
de 1930, teve uma importância fundamental na propagação nacional da música
popular, por meio da qual pretendia-se forjar uma ideologia que fosse aceita
pela população. Conforme CAPELATO (2003), as transmissões das mensagens de
propaganda foram feitas por meio da imprensa e do rádio. As empresas
jornalísticas só conseguiram se estabelecer mediante registro no DIP e dessa
forma agiam sem nenhuma independência. A imprensa foi, portanto, o setor mais
atingido pelo controle do DIP, ao passo que no rádio havia espaço para
atividades relativamente autônomas. O governo Vargas, desde 1932, havia
estabelecido que a radiocomunicação constituísse um serviço público,
dependendo, portanto, da concessão do governo. A legislação de 1932 previa a
transmissão de um programa nacional, denominado Hora Nacional, que abordaria
diversos assuntos, como a questão social, econômica, política, religiosa,
artística e científica. A Hora Nacional deveria ser retransmitida por todas as
emissoras do país, sendo proibida a irradiação de qualquer outro programa no
mesmo horário. Porém, além de problemas técnicos, como a baixa potência dos
transmissores, muitas emissoras resistiram a essa imposição preferindo
manter-se fora do ar a transmitir um programa oficial. Com a criação do
Departamento de Imprensa e Propaganda ( DIP), em 1939, o programa oficial,
agora denominado Hora do Brasil, passou a ser transmitido para todo o país,
visando integrar todos os lugares, mesmo os mais distantes, à Capital Federal.
Cabia ao DIP produzir material de propaganda governamental, fiscalizar e
supervisionar a aplicação da legislação referente às atividades culturais e
ainda censurar os programas transmitidos pelas diversas emissoras. Como os
programas eram feitos ao vivo, os censores ouviam os programas e emitiam seus
pareceres. Com duração de uma hora, o programa tinha como finalidade difundir a
informação, a cultura e o civismo. Os discursos oficiais e os atos do governo eram
divulgados nesse programa que também exaltava o 19 patriotismo, destacando
feitos gloriosos do passado e procurava estimular o gosto pelas artes
populares. Os comerciantes eram obrigados a instalar aparelhos receptores de
rádio em seus estabelecimentos para que todos pudessem ouvir o programa oficial
do DIP. Também se colocavam alto-falantes nas praças, tanto das cidades quanto
do interior. Fazia-se questão que todos os brasileiros ouvissem o programa.
(CAPELATTO, 2005). Ainda segundo a mesma autora, o DIP, por meio da Divisão do
Rádio, controlava toda a programação radiofônica, examinando e proibindo aquilo
que não estivesse de acordo com a ideologia do Estado. De acordo com o DIP, os
diversos programas, além de divulgar as mensagens e os atos oficiais, deveriam
divulgar a cultura, as conquistas do ser humano, as belezas naturais do país e
ainda incentivar as relações comerciais. Havia também a preocupação de que o
rádio deveria atingir o homem do interior para promover a sua integração na
coletividade nacional. O DIP também procurava impedir que as injustiças sociais
fossem denunciadas por meio das letras dos sambas. Só em 1940, o DIP vetou 373
letras de músicas e em 1941 proibiu a divulgação do samba “O Bonde de São
Januário”, de Ataulfo Alves e Wilson Batista, por considerar uma exaltação à
malandragem. Em 1940, por meio do Decreto-Lei 2073, Getúlio Vargas criou as
Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, englobando a Rádio Nacional do
Rio de Janeiro que pertencia ao grupo A Noite, a qual serviu como um modelo de
ação política do governo Vargas. Os jornais “A Manhã” e “A Noite” e a “Revista
Carioca” também passaram para as mãos do governo. Em parceria com agências de
publicidade, a Rádio Nacional passou a criar programas de sucesso permanecendo
como a emissora de maior audiência em todo o país na era de ouro do rádio, com
as radionovelas, Repórter Esso e programas de auditório, tornando-se um modelo
seguido por outras emissoras.
Em 1947, foi ao ar a primeira emissora de
Guarapuava, a Rádio Difusora. Segundo CAILLOT (2007), um grupo de amigos
adquiriu a concessão de emissora por meio de negociação junto a João Vargas de
Oliveira, deputado federal de Ponta Grossa. Este grupo era formado por
Sebastião Loures Bastos, João Loures Bastos, Manoel Romeu Loures Bastos, Luis
Antonio Ciscato, José Abrão Nasser, Omar Camargo e Renato Küster, este que se
tornou o primeiro diretor e teve como responsabilidade a construção do prédio e
a compra dos equipamentos necessários para o funcionamento da emissora. Numa
viagem a São Paulo, Renato Küster teria adquirido mais de 2 mil discos dos mais
diversos gêneros, organizando assim a discoteca do rádio. Porém, em entrevista
com o Senhor Rodolfo Chagas Jurchaks, este afirmou que o proprietário da Rádio
Difusora era o Senhor Antonio Lustosa de Oliveira, que foi um cidadão de
intensa atuação política e empresarial tanto na cidade quanto no campo e tinha
como hobby o desenvolvimento de atividades na área de comunicação. Isso o teria
levado a fundar a primeira emissora de rádio de Guarapuava, a Rádio Difusora e
também o Jornal “A Folha do Oeste” que mais tarde foi extinta. Como deputado
federal, o Senhor Antonio Lustosa de Oliveira conseguiu a concessão da emissora
porque tinha acesso junto aos poderes da República. O objetivo, como citei
anteriormente, presume-se fosse em função do hobby, mas há um conflito aí neste
ponto porque o Senhor Antonio Lustosa de Oliveira era líder de um grupo
político na época. Então já se tem aí a idéia de desde a época de sua fundação,
como acontece hoje com a maioria dos meios de comunicação, sempre há o dedo
político na coisa. Então não se há uma precisão aí, dizer que foi
exclusivamente pelo hobby dele e pelo amor que ele tinha, pela dedicação a
Guarapuava e região ou se foi por motivos futuros políticos. Como acabou
acontecendo, ela se transformou numa emissora de um proprietário político
(JURCHAKS, entrevista, 2008). Os equipamentos para a montagem da emissora,
conforme descrito por JURCHAKS (2008), foram comprados junto a outras emissoras
mais antigas de São Paulo, do Rio de Janeiro e até do Rio Grande do Sul,
portanto, já de segunda mão. Para a instalação, também se fez necessário 21 que
viessem técnicos de São Paulo e do Rio de Janeiro, pois como eram equipamentos
desativados, houve necessidade de recondicioná-los para que pudessem ser
colocados em funcionamento. Localizando-se à Rua Vicente Machado, ao lado do
Colégio Nossa Senhora de Belém, a rádio surgiu com uma potência de dois mil
Watts. Conforme explicou o Senhor Rodolfo Chagas Jurchaks, tal potência
equivaleria hoje a uns duzentos mil Watts, porque eram escassas as emissoras. A
propagação se dava com mais intensidade porque não havia interferências como
ocorre hoje. Os primeiros profissionais, tanto técnicos como radialistas a
atuarem, vieram de outras cidades, como São Paulo e Curitiba. Inclusive o
próprio Rodolfo Chagas Jurchaks veio de Curitiba, em 1959, contratado pelo
Senhor Antonio Lustosa de Oliveira. Durante a sua carreira, esteve ligado a
programações de jornalismo esportivo e jornalismo político. Porém, pessoas da
região logo começaram a se destacar como técnicos e radialistas. Segundo
CAILLOT (2007), a Diocese de Guarapuava cedeu o terreno, localizado à Rua
Saldanha Marinho, em frente à Igreja Ucraniana, onde foi construída a casa que
abrigaria o transmissor e instalada a torre de transmissão, cujo trabalho foi
realizado pelo eletricista Sr. Ricardo Prazell. O transmissor veio de São
Paulo, comprado da fabricante Byingthon. A rádio foi ao ar em caráter
experimental sendo muito bem aceita pela população que acabou colaborando para
a melhoria da programação. Isso foi um incentivo para que a rádio, por meio de
seus representantes, buscasse aperfeiçoamento. Em 1947, ano da fundação da
Rádio Difusora, haveria eleição para os poderes executivo e Legislativo dos
Estados e Municípios brasileiros, prevista pela Constituição de 1946, que
colocou fim ao Estado Novo, redemocratizando o Brasil. Assim como Vargas e
outros políticos fizeram uso do rádio para difundir uma ideologia, em
Guarapuava não foi diferente. A rádio Difusora teve como principal motivo de
sua fundação interesses políticos. Nas eleições de 1947, dois grupos políticos
22 apresentaram candidatos: o PSD (Partido Social Democrático) apresentou como
candidato Juvenal de Assis Machado, conhecido como Machadinho, um fazendeiro da
região de Pinhão. Partidos das classes empresariais, como o PRP, indicaram um
industrial e comerciante da cidade, Sebastião Loures Bastos, conhecido como
Loli. Embora contando com uma emissora de rádio para auxiliar na campanha,
Sebastião Loures Bastos foi derrotado pelo adversário. (CAILLOT, 2007).
Conforme o mesmo autor, tal derrota deve-se ao fato da Rádio Difusora contar
com pouco tempo de funcionamento e no interior, onde Juvenal de Assis Machado
venceu com a maioria dos votos, grande parte da população não possuir um
aparelho de rádio. Na cidade, onde o rádio já fazia parte do cotidiano das
pessoas, Sebastião Loures Bastos obteve a maioria dos votos, porém, não o
suficiente para ser eleito. O rádio foi a grande novidade da época e todos o
ouviam, fosse em casa ou na casa do vizinho. Diversos programas atraíam o
interesse da população, dentre eles, o de utilidade pública no qual muitas
pessoas ou entidades buscavam a emissora para divulgar atividades de utilidade
pública ou comunicados que fossem do interesse da população. O rádio despertou
sentimentos diversos que poderiam ser de fascínio ou de rejeição. Todo tipo de
estereótipo se fazia presente no universo radiofônico. Em relação ao
radialista, este poderia ser admirado ou odiado. O Senhor Rodolfo Chagas
Jurchaks explica por quê: À época, o radialista, digamos, ele era admirado e
odiado ao mesmo tempo. Isso é fácil de explicar porque como não haviam
profissionais, então por aqui aportavam muitos aventureiros, né, que faziam do
rádio um instrumento de aventura. Então o radialista, em si, o radialista bem
intencionado, ele era, digamos assim, visto com um certo distanciamento pela
sociedade. O que só se quebrou aí com o correr do tempo, com o correr dos anos
quando aqueles que de fora vieram conseguiram se consolidar perante a
sociedade, introduzindo-se na sociedade e demonstrando seus reais interesses
para com Guarapuava e para com a sua situação profissional (JURCHAKS, entrevista,
2008). Naquela época, era comum que cada emissora de rádio tivesse o seu
auditório onde ocorriam programas ao vivo. A Rádio Difusora também dispunha de
um, onde a participação da população era grande. Um dos 23 programas que atraía
uma grande quantidade de gente era o programa Infantilidades. Muitos pais e
crianças vinham tanto do interior quanto da cidade para participar. A
movimentação era grande. Os programas de auditório também lançavam artistas,
como o Zé Mendes que veio do interior de Guarapuava, encantando a população.
Foi convidado a ir para uma emissora do Rio Grande do Sul, onde fez sucesso. Se
ainda hoje o rádio é um importante meio de comunicação, que transmite
informações rapidamente, sendo companhia e diversão para muita gente, nos
primeiros tempos isso era muito mais significativo. Tudo o que acontecia era
por meio do rádio que se tomava conhecimento. O rádio unia as pessoas, como bem
nos descreve o Sr. Rodolfo Chagas Jurchaks: O rádio era um instrumento de
utilidade pública na perfeita acepção da palavra porque ele era, digamos, o
portador de mensagens, da ligação da cidade com o interior e com a região. Aqui
se passavam mensagens para o interior. O interior só tinha conhecimento do que
se passava em Guarapuava através do rádio. As pessoas só se comunicavam com o
interior através do rádio, mandando suas mensagens para parentes, amigos.
Então, tudo girava em torno desse relacionamento da rádio com os ouvintes e é
claro que dentro desse sistema incluía-se os programas de auditório, os programas
infantis de auditório, os programas para adultos, lançamento de artistas, etc.
Tudo isso acontecia dentro do rádio. E o pessoal participava. A população
participava em massa né, era o único meio de comunicação a que ela tinha
acesso, então ela participava. As novidades aconteciam no rádio, né, as pessoas
que chegavam na cidade era através do rádio que se sabia. Tudo o que acontecia
na sociedade era o rádio o único instrumento que tinha a sociedade para tomar
conhecimento (JURCHAKS, entrevista, 2008). Como se pode perceber, o rádio
desempenhou um papel importantíssimo junto à sociedade, constituindo-se em elo
de ligação entre a cidade e o campo, unindo a população em torno do mesmo
ideal. Todas as novidades, notícias e acontecimentos eram divulgados por meio
do rádio, que mesmo tendo sofrido grandes mudanças, continua fazendo parte do
cotidiano das pessoas, acelerando as informações e encurtando distâncias.
Atividades
1-Leitura do texto.
2- Fichamento .
A-
O RÁDIO NO BRASIL: DO SURGIMENTO À DÉCADA DE 1940 E A PRIMEIRA EMISSORA DE
RÁDIO EM GUARAPUAVA
B- A LEGISLAÇÃO RADIOFÔNICA E A PROPAGANDA
C- OS ASTROS E AS
ESTRELAS DO RÁDIO E O ENTRETENIMENTO
D- O RADIOJORNALISMO
E A DIFUSÃO DA INFORMAÇÃO
E- A POPULARIZAÇÃO DO
RÁDIO
F- O RÁDIO NA ERA VARGAS
G- O RÁDIO E A CENSURA
H- O INÍCIO DO RÁDIO
EM GUARAPUAVA
3- Pesquisa . “\produção cinematográfica brasileira nas
primeiras décadas do século XX”
4- Mandar o fichamento (legível ) e pesquisa com
nome número serie turma ( ex Mauricio número 00 serie 4 turma E )
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